///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Ficção / Dramaturgia
Auto da felicidade que não vem
O enredo desta peça foi inspirado em personagem da vida real (Dona Yayá) do bairro paulistano popularmente chamado de “Bixiga”, porém não é uma biografia, mas sim a dramatização de aspectos tristes, contraditórios e desumanos da vida contemporânea em uma cidade grande, em crise e em permanente transformação.
O texto tem a força e a doçura de um auto profano, cujo tema central é o amor desesperado, incondicional, não correspondido, mesclado ao da loucura sutil de uma mulher inteligente, muito mais sensível do que a realidade envolvente, muito mais humana, em sua desrazão, do que a desumanizada cidade que a rodeia.
Catarina (protagonista) passou a maior parte de sua vida encerrada em um velho casarão do bairro paulistano do Bixiga. Foi considerada insana, pela família, em 1929, aos 17 anos de idade. Isso ocorreu por ocasião da morte de seus pais, imigrantes toscanos, e logo após sua ruptura com Enzo, jovem napolitano, o primeiro e único amor de sua vida.
Os pais deixaram para Catarina uma boa herança, em dinheiro e, também o casarão antigo, do Bixiga, onde ela nasceu, e que lhe servirá de moradia obrigatória até o final da vida. Considerada louca por seus tios, vizinhos e médicos, a jovem foi interditada por decisão judicial e seus bens passaram a ser administrados por sucessivos tutores, membros da família. Nada lhe falta, dentro do casarão, exceto liberdade e amor. Não foi internada em hospital psiquiátrico, mas não pode sair de casa.
Os únicos contatos de Catarina com o mundo exterior são feitos graças às janelas do casarão, voltadas para uma rua do bairro do Bixiga, onde ela nasceu, em 1912. Esse bairro foi se transformando, ao longo das décadas, e Catarina viu, lá de suas janelas, essa lenta e inexorável mudança. Nada mais é como antes. A cidade de São Paulo tornou-se instável, e, mais instável ainda, a mente de Catarina. Sua linguagem mostra que ela vive em permanente contato com o imprevisível e o impossível: seu desejo, carregado de sensibilidade e de ilusão, é o de recuperar o amor que Enzo, jovem napolitano, tinha por ela quando ambos eram estudantes. Tudo mudou, em São Paulo e no Bixiga (arquitetura, hábitos, contextos históricos) só a paixão alucinada de Catarina por Enzo permanece igual, não muda nunca.
Expressões populares da cultura brasileira – a festa de Nossa Senhora Achiropita, Adoniran Barbosa, o Teatro Oficina, a Escola de Samba Vai-Vai – servirão de contraponto alegre e descontraído para a história de uma vida (a da Louca) que é trágica. Tão trágica quanto o lento afundamento humano e arquitetônico do bairro do Bixiga, um dos mais antigos, simpáticos e boêmios da história cultural da cidade de São Paulo.
Este livro foi publicado com recursos do Fundo Municipal de Cultura da Fundação Cassiano Ricardo, de São José dos Campos – SP.
Ficha Técnica
Título
Auto da felicidade que não vem
Ano
2023
Gênero
Dramaturgia
Editora
Tachion
101 páginas