Victor Leonardi

Este sétimo livro de poesia de Victor Leonardi foi escrito em 2015, quando ele já estava morando em uma pequena vila da Serra da Mantiqueira chamada São Francisco Xavier, onde também escreveu seu livro anterior, Nasci no país que tem nome de árvore, publicado em 2012. São livros onde a natureza – a Mata Atlântica, animais silvestres, montanhas – está muito presente, ao lado de temas existenciais que permeiam toda a sua obra e que sempre aparecem, transfiguradas, em seus livros. Intuição, pensamento à solta e imaginação ativa contribuem para tornar este livro um dos preferidos do autor.

A capa traz uma pintura do artista Carlos Eduardo Finócchio.

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Escritório de inventar coisas sem nenhum valor comercial

 

Montanha é um espaço geográfico com certas características

Mas é também lugar simbólico

Que tem intenso apelo emocional.

Daqui do alto, o debate sobre o sentido e a crise

Da modernidade

Tem pouca utilidade para mim:

Minhas montanhas aproximam

A frugalidade e os excessos.

Saborosos excessos.

Tenho um escritório para pensar projetos eletrizantes

Que dão origem a coisas sem nenhum valor de mercado.

Coisas importantes.

Escritório sonâmbulo

No qual durmo nas horas em que todos trabalham

E trabalho quando todos já foram dormir, se me der vontade.

Se não der vontade, não trabalho,

Apenas participo do silêncio da noite.

O que não deixa de ser algo que também é muito importante. 

 

 

 

A Lua e a prata

 

O fogão a lenha está aceso desde que anoiteceu

E aqui na porta a Lua lança uma claridade suave sobre minha faca de prata.

Colinas e rochedos, sob o luar, abrigam espíritos de mulheres

Cujos maridos foram sacrificados, não se sabe por quem.

É hora de escrever,

Este mês é favorável.

Corto minhas unhas, jogo pedaços no fogo

E escrevo o primeiro verso.

Hoje é dia sete.

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