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Poesia

Livro verde das horas

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Victor Leonardi começou a escrever poesia em 1963, aos vinte anos de idade, quando morava no Sul da Bahia e estudava na Faculdade de Direito de Ilhéus. Só começou a escrever ficção e ensaios alguns anos mais tarde. Como teve de sair do Brasil três anos depois do golpe militar de 1964 e passar vários anos no exílio, seus poemas permaneceram inéditos e foram lidos por um número muito pequeno de pessoas.
Foi só em 1999, quando já estava escrevendo poesia há 35 anos, que o editor Massao Ohno, de São Paulo, decidiu publicar esta coletânea, organizada pelo próprio autor. Dela fazem parte alguns poemas escritos nos anos 1960 e 1970 e, principalmente, versos mais recentes, dos anos 1980 e 1990. Foram 35 anos de vida instável e mais ou menos nômade, com o autor escrevendo no Equador, na Guatemala, na França, na Paraíba, na Espanha, no Amazonas, em Brasília e no Rio de Janeiro. Ou então, no seu minúsculo apartamento do centro velho de São Paulo, localizado no número 1060 da Avenida São João.

A capa do livro foi composta com pintura do artista Arcangelo Ianelli, Composição em verde, 1998.


O princípio sem princípio

A poesia nunca é maldita
Mesmo quando o poeta come ópio
Ou é um marido complacente
Ou se chama Gregório de Matos.
A lei da magia sempre foi a lei da oposição,
Words, Words, Words, continua dizendo Hamlet
Enquanto nós batalhamos (por escrito) pelo equilíbrio
Pela construção da vida
De forma muitas vezes maldita.
Quase sempre maldita.



Cais de porto


Encontrei um pé de criança no meu feijão,
Pezinho magro
Deve ser bem indigesto.
Ainda outro dia encontrei dois dedos!
Estou emagrecendo a olhos vistos
Pois não me acostumo com isso.
Tento não pensar em nada
Mas não durmo, não adianta
Só vejo orelhas. Recobertas de terra.
Ipê-amarelo, cadê você?
Rua da Glória, caminho do mar, eu quero...
Embarquei cais número 5, não veio ninguém.



Vendedor de ilusões

Eu sinto todas as voltas e curvas que minha vida faz
Penso até que vou ser fuzilado, mas não, pelo contrário
Vem alguém e me pergunta alguma coisa em código.
Parece que quer vender uma ideia, ou religião.
Os demais estão achando aquilo absurdo e cansativo.
Fico com pena dele, que já vai saindo
E lhe digo algumas palavras de estímulo.
É um vendedor de ilusões.
“Talvez eu compre uma!”, digo eu, para animá-lo um pouco.



 

Ficha Técnica

Título
Livro verde das horas

Ano
1999

Gênero

Poesia

 

Editora

Massao Ohno Editor

 

102 páginas

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