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Ensaio
Os navegantes e o sonho: Presença do Oriente na história do Brasil
Já foram feitos inúmeros estudos sobre a presença da África no processo de formação da sociedade luso-brasileira dos séculos XVI, XVII e XVIII. Quando o Brasil se separou de Portugal, metade da população do país descendia de africanos ou tinha nascido na África. Como o tráfico de escravos ainda continuou por algumas décadas, essa presença se acentuou ainda mais, ao longo do século XIX, com milhares de bantus e sudaneses escravizados sendo trazidos à força de Angola para o Brasil, ou do Benin para o Brasil, ou de Moçambique, e aqui deixando formas africanas de viver e pensar.
Também são inúmeros os estudos dedicados às afinidades culturais que unem Portugal à sua ex-colônia brasileira: língua, tradições religiosas, direito, arquitetura. O que até agora tinha sido pouco estudado é a presença do Oriente no processo de formação da cultura brasileira, e é esse justamente o tema de Victor Leonardi neste livro: presença sutil, muito menos evidente do que a presença africana, e, no entanto, efetiva, com raízes históricas que remontam aos séculos XVI e XVII, quando os navegantes portugueses que iam e voltavam da Índia faziam escala em portos brasileiros, principalmente em Salvador, capital da colônia.
Os portugueses frequentavam a Ásia com regularidade e tinham colônias na Índia (Goa, Damão, Diu) e na China (Macau). Também se estabeleceram em Malaca e em Timor. Entre o porto de Lisboa e esses distantes portos asiáticos, as naus da Carreira da Índia faziam escalas no Brasil, por razões relacionadas com as correntes marítimas e o regime de ventos. Durante mais de 300 anos, o Atlântico Sul e o Oceano Índico estiveram ligados por essas embarcações portuguesas. Como as escalas na Bahia, ou no Rio de Janeiro, eram demoradas (de até 3 meses), inúmeros elementos culturais e hábitos orientais foram sendo incorporados, ao longo dos séculos, pelas elites coloniais da América Portuguesa: consumo de porcelana, uso de muita seda em ocasiões especiais, hábitos alimentares, técnicas de pintura, detalhes arquitetônicos, cultivo de certas plantas, jeito de negociar, atitudes diante da vida, costumes e hábitos cotidianos.
A matriz cultural era lusa, mas a forte presença africana, salpicada de sutis e distantes condimentos asiáticos, fizeram do Brasil um país diferente de Portugal em inúmeros aspectos. O Brasil não é puro Ocidente embora também não seja puro Oriente. Conserva inúmeras heranças africanas e portuguesas, mas não é uma mera projeção de Portugal e África em terras sul-americanas. Trata-se de algo novo, em termos culturais, que precisa ser apreendido em suas especificidades, e sobre esse tema o autor faz uma série de reflexões baseadas em vasta bibliografia e em inúmeras viagens de estudo que ele próprio fez, pelo Oriente (visitou demoradamente a Índia e a China e esteve em 16 países muçulmanos).
O livro também contém interpretações relativas aos séculos XIX e XX, quando várias correntes migratórias de procedência oriental - sírios, libaneses, iraquianos, palestinos, turcos, japoneses, coreanos - tornaram a diversidade cultural brasileira ainda maior.
Ficha Técnica
Título
Os navegantes e o sonho: Presença do Oriente na história do Brasil
Ano
2005
Gênero
Ensaio
Editora
Editora Paralelo 15
172 páginas