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Ensaio
Entre árvores e esquecimentos
A Modernidade e os povos indígenas, este é o tema central deste livro, no qual o autor analisa os principais conflitos interétnicos ocorridos ao longo da história da América Portuguesa (1532-1822), do Império Brasileiro (1822 - 1889) e do Brasil republicano. A produção de açúcar, no período colonial, foi feita em áreas até então habitadas por índios. A descoberta do ouro, no século XVIII, levou milhares de portugueses e luso-brasileiros para os sertões de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, cujas terras eram habitadas há séculos por povos indígenas. O mesmo processo conflituoso ocorreu, em outras regiões, a partir da expansão da pecuária - no Nordeste, Centro-Oeste e Sul - e do extrativismo amazônico. Sempre que as frentes pioneiras avançavam, em busca de novas riquezas, os índios passavam a ser vistos como obstáculo a ser eliminado.
A violência esteve sempre associada, inclusive sob as formas extremas de etnocídio, ao colonialismo português em terras do Brasil. Quando esse país se separou de Portugal, em 1822, a violência não cessou, embora tenha assumido novas configurações, mais modernas, e isso foi assim ao longo de todo o século XX, na Amazônia principalmente. O crescimento econômico do Brasil sempre teve esse lado sombrio, tanatológico. A ideologia do progresso - fortemente enraizada no Brasil graças aos positivistas -, sempre relegou ao esquecimento essa presença de Tânatos em terras brasileiras, que este livro comprova com base em farta documentação histórica obtida em arquivos e bibliotecas do Brasil e de Portugal. A abordagem não é reducionista, pois além dos fatores econômicos, o autor mostra como a violência também foi provocada por fortes preconceitos em relação a índios e negros, desde o século XVI.
A complexidade do tema aumenta quando Leonardi passa a analisar, para além dos conflitos entre brancos e índios, as inúmeras guerras que os próprios povos indígenas fizeram entre si e as inúmeras alianças que portugueses fizeram com índios para combater outros índios. Essas contradições são estudadas mediante análises comparadas com outros contextos históricos nos quais conflitos interétnicos foram frequentes, na África e na América do Norte. O resultado é uma ampla reflexão teórica sobre a acumulação prévia (Adam Smith) de capital, que o autor prefere chamar de acumulação pela força, e uma leitura crítica de alguns textos de Marx nos quais essas dimensões tanatológicas foram esquecidas.
Apesar da violência histórica, o autor apresenta aspectos não-violentos na formação social brasileira ao descrever cenas de vida no sertão: compadrio, misticismo e formas de cooperação solidária entre alguns segmentos da população. A partir da situação brasileira, o livro oferece ao leitor uma nova visão da expansão mercantilista europeia sobre os demais continentes e uma releitura do mundo moderno, por meio de diálogos com o pensamento de Kant, Hegel, Lafargue e outros pensadores.
Ficha Técnica
Título
Entre árvores e esquecimentos
Ano
1996 - 1a. edição
2016 - 2a. edição
Gênero
Ensaio
Editora
Coedição:
Editora Universidade de Brasília
Editora Paralelo 15
450 páginas